LIÇÃO 334
Reivindico, hoje, as dádivas que o perdão dá.
1. Não vou esperar outro dia para achar os tesouros que meu Pai me oferece. Todas as ilusões são vãs e os sonhos desaparecem, mesmo porque se baseiam em percepções falsas. Permite que hoje eu não aceite dádivas tão mesquinhas novamente. A Voz de Deus oferece a paz de Deus a todos que ouvem e escolhem seguí-Lo. Esta é minha escolha hoje. E, assim, vou encontrar os tesouros que Deus me dá.
2. Busco apenas o eterno. Pois Teu Filho não pode se satisfazer com nada menos do que isso. O que, então, pode servir de consolo para ele, a não ser aquilo que Tu ofereces a sua mente confusa e coração amedrontado, para lhe dar segurança e lhe trazer paz? Quero ver meu irmão sem pecado hoje. Esta é Tua Vontade para mim, pois deste modo verei minha inocência.
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COMENTÁRIO:
A ideia que o Curso nos oferece para as práticas nesta quarta-feira, dia 30 de novembro, tem a ver com tomar posse da herança de Filhos de Deus, a que temos direito natural, por ainda sermos tal qual Deus nos criou, conforme ensina o UCEM de várias maneiras e em várias ocasiões ao longo do texto e dos exercícios.
Tem a ver com o perdão, que é a forma de acessar essa herança. E perdoar o mundo é o mesmo que abandoná-lo, é abrir mão dele para ganhá-lo por inteiro, à luz da percepção verdadeira, sabendo que ele não vai durar, que ele não é eterno e não tem senão o valor que lhe damos, que é sempre temporário e variável. Por dependente da percepção que temos e que, ora nos mostra algo como útil, ora como inútil.
Perdoar o mundo, como eu já disse antes, em sintonia com o que o Curso ensina, é esquecer o passado. É entregar o mundo e seu futuro a seu próprio destino, sem qualquer intenção de controle, sem qualquer pretensão de saber ditar a ele "melhores" modos e comportamentos.
Repetindo, perdoar o mundo é reconhecer que ele não tem nada que queiramos realmente. É dar a ele apenas o valor que lhe é devido por sua impermanência, por sabe-lo passageiro e mutável, reconhecendo a diversidade apenas como aspectos diversos da mesma ilusão, que o cria e constrói a partir de pensamentos baseados na crença em uma ideia que valoriza a separação, como se ela fosse verdadeira, esquecendo-se da Unidade, de que todos somos partes.
Para nos lembrarmos de tudo isso, ofereço-lhes mais uma vez a passagem do livro Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, na qual ele nos apresenta a compreensão disto, a partir da percepção do Menino, em um trecho de uma das estórias:
"E, vindo outro dia, não no não-estar-mais-dormindo e não-estar-ainda-acordado, o Menino recebia uma claridade de juízo - feito um assopro - doce, solta. Quase como assistir às certezas lembradas por um outro; era que nem uma espécie de cinema de desconhecidos pensamentos; feito ele estivesse podendo copiar no espírito ideias de gente muito grande. Tanto, que, por aí, desapareciam, esfiapadas.
"Mas naquele raiar, ele sabia e achava: que a gente nunca podia apreciar, direito, mesmo as coisas bonitas ou boas, que aconteciam. Às vezes, porque sobrevinham depressa e inesperadamente, a gente nem estando arrumado. Ou esperadas, e então não tinham gosto de tão boas, eram só um arremedo grosseiro. Ou porque as outras coisas, as ruins, prosseguiam também, de lado e do outro, não deixando limpo lugar. Ou porque faltavam ainda outras coisas, acontecidas em diferentes ocasiões, mas que careciam de formar junto com aquelas, para o completo. Ou porque, mesmo enquanto estavam acontecendo, a gente já sabia que elas já estavam caminhando para se acabar roídas pelas horas, desmanchadas..."